A VIDA A BORDO DAS CARAVELAS
Não damos real valor à coragem e ao esforço dos nossos descobridores se não perdermos algum tempo a aprender como era a vida a bordo.
Ao embarcar, os navios precisavam de ir abastecidos para um tempo ilimitado, por isso, animais vivos, acomodados no convés (ao lado do batel, remos, vergas, etc), barris de água e de vinho, pão, biscoito, carne salgada, peixe seco, mel, fruta seca, etc., mas também madeira e carvão ocupavam a maior parte do espaço disponível. Normalmente comiam-se os alimentos secos pois não era muito frequente fazer tempo que permitisse uma refeição quente. A alimentação era, pois, muito pobre, sobretudo em alimentos frescos.
Andava-se descalço e dormia-se onde se pudesse, à excepção do capitão que tinha um pequeno compartimento privado no castelo que se erguia à popa. O banho, como se calcula, era impensável, porque a água doce era um bem escasso e precioso.
Já que falamos em água, convém lembrar que se inquinava rapidamente, sobretudo quando submetida aos efeitos dos climas tropicais. Com alimentação tão pobre e água escassa, as doenças surgiam facilmente, particularmente o terrível escorbuto.
Era necessário fazer algumas paragens em cada viagem e os motivos eram todos importantes: abastecer de água e de alimentos frescos (diz-se: fazer aguada)[2]; consertar rombos que houvesse; limpar o casco do navio onde os moluscos se agarravam e, mais do que dificultar a viagem, poderiam corroer a madeira pondo em perigo a vida de toda a tripulação, etc.
Como a costa era desconhecida, navegava-se de dia. O convés, por ser de madeira, tinha que ser molhado diariamente. Naquelas viagens, a doença, a morte e o perigo eram os companheiros de todos os dias. Saía-se sem saber quando nem se se regressaria. O mar é a sepultura de muitos navegadores portugueses.
______________
[1] Bolinar, ou navegar à bolina significa a capacidade de navegar enfrentando ventos desfavoráveis.
[2] Imaginem-se as paragens feitas antes de conhecermos as línguas que falavam os povos encontrados: como comunicar? Como dizer o que se quer e se precisa? Como dizer quem somos?